sábado, 5 de julho de 2008

Eric Clapton

Dedicada para meu grande amigo Daniel...



"Clapton is God" dizia a pichação de um muro no metrô londrino. Foi feita depois de um show de Clapton com os Bluesbreakers; O autor, um completo desconhecido. Bastou para o já bem sucedido guitarrista de blues ganhar uma aura de mito e realmente ascender ao patamar dos deuses do rock. O grafitti reapareceu diversas vezes, no que parece ter sido uma febre da juventude britânica.
A história de Eric começa em Surrey; Um distrito ao sudeste, não muito longe, de Londres. Seu nascimento foi fruto de uma moça londrina de 16 anos e um militar canadense. É apenas mais uma dentre muitas estórias semelhantes à época. Estávamos no ano de 1945; Rolava a 2ª Grande Guerra. A todo momento chegavam na pequena ilha da Inglaterra os aliados, americanos e canadenses, prontos para lutar contra os alemães. Naturalmente, acabavam arrumando uma paquera nos dias de folga e pronto! estava feito o estrago. Muitos nunca saíram da alemanha e outros tantos simplismente voltaram para seu país de origem, ignorando a sorte de quem havia ficado para trás.
Muitas foram as crianças nascidas sem pai nessa época. Clapton foi apenas mais um. Infelizmente, para piorar, foi montado, entre a mãe e os avós de Eric, um terrível teatro que iria para sempre marcar a vida do menino. Miss Patricia Molly Clapton, então com 16 anos, passou a ser a irmã mais velha, enquanto Rose e Jack de avós, foram promovidos a pais. Imaginem o choque frente à descoberta. Cresceu o menino; Introvertido, tímido e deslocado. Embora pareçam superficiais, essas características teriam sérias repercussões em sua vida futura como veremos mais a frente.
A parte que nos interessa de verdade começa aos treze anos do jovem guitarrista, quando este ganha seu primeiro violão. Eric era canhoto, e como as dificuldades para obter um bom violão já fossem muitas, se viu obrigado a adaptar-se ao jeito destro de tocar. Com muita dificuldade no início, quase desistiu. Felizmente, o amor ao blues falou mais forte e as tarde inteiras dedicadas a aprender os acordes e licks de seus ídolos valeram a pena.
Quando com cerca de dezessete anos, juntou-se a sua primeira banda, e começou a se apresentar no circuito londrino. No ano de 1963, se junta aos Yardbirds o qual viria a dar um grande empurrão em sua carreira, tornando-o um dos guitarristas mais comentados no reino unido. Foi nessa época que ele ganhou o apelido de "Slow Hand", devido às frases lentas, mas cheias de pegada. Em '65 deixa os Yardbirds, agora sobre o comando de Page e Beck (como já comentado na resenha do Led Zeppelin), devido a divergências musicais. Clapton procurava algo mais voltado para o blues de raiz, ao passo que o Yardbirds estava se tornando cada vez mais um grupo de musica pop. Sem problemas. Logo na seqüência, Clapton se junta ao "John Mayall and the Bluesbreakers". Agora sim, em seu ambiente natural, Eric começa a ganhar real notoriedade como guitarrista de blues. É dessa época que datam as pichações no metrô, que, diga-se de passagem, muito incomodaram Clapton ao longo dos anos.
Embalado pelo sucesso, Clapton sai do Bluesbreakers um ano depois para formar um dos primeiros power-trios do rock (também já comentados aqui no blog): o "Cream". Formado em '66 por Jack Bruce (baixo e vocal), Clapton (guitarra e eventuais vocais) e Ginger Baker (bateria). O grupo conseguiu um grande público e apreciação junto à crítica, sendo um dos precursores das enooormes blues-jam sessions que viriam a se tornar a marca registrada de muitas bandas de blues-rock e rock psicodélico a época da transição dos 60 pros 70 (bandas como o Jimi hendrix Experience, Grateful Dead, Jefersson Airplane, Ten Years After; só pra citar algumas). Por falar em Hendrix, o gênio negro começa a fazer sucesso exatamente nessa época, ironicamente, na Inglaterra e não nos EUA (seu país de origem). São freqüentes as comparações entre ele e Clapton. É da época do Cream que sai um dos maiores sucessos de Eric, tocado até hoje em todos os shows feitos pelo guitarrista: Sunshine of Your Love. Infelizmente (ou felizmente), o Cream não durou muito tempo. Na verdade, a própria junção de seus membros já foi um feito, visto que havia rusgas de tempos passados.
Após um ano com o Cream, Clapton sai para formar o Blind Faith, que teria uma vida mais curta ainda, gravando apenas um disco. Excelente disco diga-se de passagem. A bolacha registra canções antológicas como "Had to Cry Today", "Well All Right" e "Presence of the Lord". Mesmo durando apenas sete meses, o Blind Faith conseguiu um ótimo sucesso nos EUA.
Aqui entra a parte inacreditável da história. Clapton, no auge de seu sucesso (até agora) decide que está "cansado" da situação de superstar. Pois é; Essa situação incomodava profundamente o tímido guitarrista, que tinha horror a dar entrevistas e gostava do canto mais escuro do palco. O que ele faz então? Sai de cena para se juntar a uma bandinha americana completamente desconhecida como músico de apoio. Mas não tinha mais jeito, Eric era uma estrela. Assim que juntou à banda, a mesma começou a fazer sucesso e o "problema" tinha recomeçado. Por volta dessa época, Clapton é encorajado a começar a compor e a cantar. Começam também as participações e reuniões especiais. De vez em quando, certo John Lennon iria ligar pra ele e perguntar: "Olha Eric, a Plastic Ono Band vai tocar esta noite, quer tocar com a gente?”. E Coisas do tipo rolavam o tempo inteiro. Tocou com Deus e o mundo, mas eu não vou listar nenhum deles aqui por ser desnecessário. Tá bom, apenas um.
Na primavera de 1970 sai "All Things Must Pass", o primeiro disco de um beatle após o término da banda (na verdade Harrison já havia lançado dois discos de musicas experimentais, mas que nem podem ser levados a sério). O disco contou com a participação de Eric e marcou profundamente o guitarrista por ter sido a época em que conheceu a esposa de George: Pattie Boyd.
Tá, tá; Todo mundo conhece a estória, mas não faz mal contar mais uma vez, senão fica faltando.
Clapton se apaixona perdidamente por Pattie, que de início não dá bola. Nessa época (1970), Eric estava formando um novo grupo pra si, o Derek and the Dominos (ainda sob efeito da "síndrome de pânico" do estrelato, usava um pseudônimo para não se sobressair aos outros membros da banda). Hipnotizado pela paixonite não correspondida pela mulher do amigo, o primeiro (e único) disco do Dominos -"Layla and Other Assorted Songs" - é inteiramente dedicado a Pattie Boyd, em especial a faixa "Layla", uma súplica velada a Pattie. Ela não resistiu muito tempo, deixou George e foi viver um longo romance com Clapton que resultou no casamento dos dois em 1979.
Quanto ao disco, é maravilhoso! Clapton interpreta suas músicas como nunca e suas composições estão bastante inspiradas. Destaque para "I Looked Away", "Bell Bottom Blues" (um tipo de balada romântica da qual o Slowhand se tornará especialista), "Layla", "Tell the Truth" e para a versão de "Little Wing" de Hendrix, que fora o riff feito por Eric, ficou muito boa. Chama-se atenção para o trabalho do guitarrista Duane Allman, fundador do Allman Brothers Band, que adicionou sua inconfundível guitarra slide (sua especialidade) a diversas músicas, além de contribuir no processo criativo.
George, apesar de corno, até que se deu bem na históra, pois Pattie era uma chata de galocha e já estava enchendo o saco do ex-beatle. Alguns anos de casamento depois, Clapton também chegaria a essa conclusão; mas não agora.
Ainda no ano de 1970, Clapton decide partir para a carreira solo, lançando seu primeiro disco, intitulado simplismente “Eric Clapton”. É um disco bem diversificado e que pode assustar quem só conhece os trabalhos mais famosos do guitarrista. Não obstante é um disco bem bacana. Na sua maioria são rocks com uma pegada bem blues, às vezes descambando para o gospel e para o soul. Atenção para as músicas: "Slunky", "Bad Boy", "Easy Now" - balada a la George Harrison, bem delicada- e "Blues power".
Também no começo dos anos setenta começam a aparecer os problemas com drogas e álcool de Clapton. O Guitarrista começa a exagerar na dose e a passar períodos cada vez maiores sem produzir e sem se apresentar. Os amigos mais próximos tentam dar suporte, mas é em vão; Eric vai ao fundo do poço tendo de ficar internado em clínicas de reabilitação por meses se recuperando da dependência da heroína. Nos camarins do Concerto pra Bangladesh (dezembro de 71) Eric desmaia, mas é revivido e continua o show. Em 73, Pete Townshend (do The Who) organiza o "Rainbow Concert" - que foi inclusive gravado e lançado em Cd- para comemorar o sucesso do tratamento e trazer o amigo de volta aos palcos.
Em '74, já livre da heroína (embora começasse a beber demais), traz novo vigor a sua carreira solo. Monta uma banda de apoio e lança um de seus melhores trabalhos: 461 Ocean Boulevard. É desse disco que sai a conhecida versão de Clapton para "I Shot the Sheriff" de Bob Marley - que com Clapton, atingiu o 1° lugar na lista da Billboard Hot 100 de '74 -. Afirmo sem sombra de dúvida que este "carimbo" do Slow Hand foi o que deu destaque e permitiu que o fenômeno Reggae saísse da Jamaica e entrasse nos EUA. Sem esse empurrão de Eric o Reggae teria permanecido uma música regional e sem expressão para todo o sempre. Além disso, embora "I Shot the sheriff" seja o único reggae no disco, várias músicas de 461 O.B. estão permeadas por levadas de guitarras bem características do estilo. Destaque para o rockaço "Motherless Children", para a lisérgica "Better make it through today", para "I Shot the Sheriff", "Mainline Florida" e "Let it Grow".
Os Anos seguintes continuariam produtivos para o guitarrista. '76 nos legou "No Reason to Cry", que embora não tenha tido sucesso comercial, tampouco foi aclamado pela crítica, tem bons momentos como "All Our Past Times", "Hello Old Friend", "Double Trouble" e "Black summer Rain". No mais, embora não essencial, é um disco muito agradável de ouvir. Já '77 é o ano de "Slowhand"; Ótimo disco, que consagrou alguns dos hits mais famosos de Clapton como "Cocaine", "Wonderful Tonight" (também composta sob inspiração de Pattie), "Lay down Sally" e "Next Time you See Her". Em '78 sai Backless, contendo algumas ótimas faixas como "Watch out for Lucy" e "If I Don't Be There By Morning". Pode-se dizer sobre esse período de '74 a '78 como o que rendeu melhor frutos à extensa carreira do guitarrista.
Em 1984, ainda casado Pattie Boyd, Eric pula a cerca com Yvonne Kelly e os dois tem uma filha no ano seguinte - filha essa que permanece escondida da mulher e da imprensa até 1991-. Em 85 Clapton tem um caso com a modelo italiana Lory Del Santo, que em 86 deu à luz ao seu filho Conor. Seguido desse caso, que se tornou público, veio o divórcio em 1989. Em 1990, uma tragédia, Conor de então quatro anos cai do 53° andar de um apartamento em NY. A dor de Clapton é expressa no acústico de 1992 através da canção "Tears in heaven" que lhe rendeu 6 grammys aquele ano. "Unplugged" deu início à febre das gravações acústicas sob crivo da MTV e marcou ainda uma volta de Clapton às suas raízes de blues. O album traz, além de "Tears in Heaven", uma interessantíssima versão de "Layla". A volta às origens foi confirmada com o álbum "From The Cradle" de '94, apenas de canções tradicionais do blues, num tributo aos clássicos que influenciaram o seu estilo.
Após alguns anos sem nada digno de nota, Eric volta a ficar em evidência em 1996 com sua regravação de "Change the World" pela qual ganhou um grammy em 97. Em 1999 Eric conhece Melia McEnery com iria se casar em 2002 e ter três filhas até 2005; Os dois permanecem juntos até hoje. Nesse ano de 2008, o Estado comunista Norte-Coreano convidou o guitarrista para se apresentar no país. Se aceitar, Clapton será o primeiro astro de rock ocidental a tocar no país. O evento deve ocorrer em meados de 2009.
Embora com muitos altos e baixos comerciais, Clapton sempre esteve em atividade. Gravou uma porrada de discos solos, discos com as mais variadas bandas, trilhas sonoras, dezenas de participações especiais, shows beneficentes, etc...A seguir, alguns discos nos mais variados momentos da carreira de Clapton, mostrando um guitarrista e compositor extremamente versátil; Sempre capaz de se renovar.




Cream - Disraeli Gears






Blind Faith - Blind Faith





Derek and the Dominos - Layla and Other Assorted Songs




Eric Clapton






461 Ocean Boulevard






No Reason to Cry


Slowhand






Backless


Unplugged



From the Cradle

Coletânia - The Blues - cd 1
Coletânia - The Blues - cd 2